sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Miragens

Caminhava tranquilamente pelo deserto. Sua água não duraria pra sempre e ele sabia disso, mas acreditava que o oásis estava próximo. Havia mais confiança nos seus cálculos do que indícios sólidos, mas ele continuava com seu passo aparentemente despreocupado.
Com o passar dos dias, ele começou a se perguntar se realmente queria o oásis. O que era o oásis afinal? apenas um lugar para reabastecer e seguir viagem? porque correr atrás de algo que poderia nem existir, quando a areia lhe parecia cada vez mais agradável?
Ele sabia no que suas dúvidas se baseavam. Vivera na floresta por algum tempo. Apaixonara-se pela floresta. Sabia que, objetivamente, a floresta tinha mais a oferecer. Sua passagem pelo deserto era uma espécie de acidente, um acidente que, de uma hora pra outra, passou a fazer sentido. Ainda assim, o plano sempre fora voltar para o cerrado, seu quartel general. Dali, o caminho para a floresta seria mais simples, ele pensava. Mas agora ele hesitava.
Nesse momento, uma parede começa a brotar do meio da areia. Uma parede alta, sólida, intransponível. Ele já ouvira falar dessa parede: ao terminar de se erguer, aparecia na base uma porta trancada. A chave geralmente ficava muito longe do local de origem da porta, de modo que poucos eram os que conseguiam atravessar para o outro lado.
Ao ver a parede começando a subir, ele foi tomado por uma vontade incontrolável de correr. Suas dúvidas já não pareciam tão importantes, as considerações acerca do deserto também perdiam sua relevância. Instintivamente, ele não queria estar deste lado da parede.
O curioso, porém, é que sua mente tampouco achava conforto ao pensar no outro lado. Ele não queria atravessar a parede naquele momento. Instintivamente, corria para ficar no lugar mais perigoso de todos. Ele sabia que não ficaria lá por muito tempo, mas, dadas as circunstâncias, sentia que era uma transição necessária.
Por alguma razão, ele corria para ficar em cima do muro.

Um comentário:

Antônio LaCarne disse...

incrível o teu blog, me identifiquei muito com os textos, parabéns!