Meia-noite. As paredes sempre tinham a mesma cor. As paredes sempre lhe vinham à mente... As cores nunca foram muitas, mas suficientes. Constantes eram os momentos em que as cores desapareciam, as horas em que a mente parava. Vivia com um amigo. Vivia só. Vivia com muitas pessoas, em vários ambientes. Como 90% das pessoas, vivia e desejava. Em alguns momentos sentia-se inteligente, em outros burro e desinformado. Era uma pessoa comum. Era um maluco incomum.
Morava no centro, trabalhava no centro, divertia-se no centro. Não vivia muito no centro. Vivia nas nuvens, vivia nas trevas. Morria. Vivera. Viverá? Vegetava...
A dúvida era sua única certeza. Explicava-se como ninguém, só não sabia sobre o que nem porque. Era livre. Era escravo da liberdade. Simplesmente era. Infelizmente, havia momentos em que não passava de ser. Era invejado. Invejava. Era. Tudo era. Tudo seria. Pouco coisa realmente acontecia. Muito acontecia. Não sabia o que acontecera, como acontecera, o que aconteceria. O mais importante, porém, era a incerteza de si sobre o presente. O que é.
Não conseguia falar. Sabia como, sabia porque, mas por qualquer razão, não conseguia. Talvez não soubesse como. Talvez não houvesse razão. Era escravo da razào, era prisioneiro dos sentimentos. Tinha uma porta, tinha uma saída, tinha uma chave, mas não sabia. Ou não sabia usar. Ou não sabia onde colocar. Deveria simplesmente ser. Simplesmente colocar, girar, simplesmente. A simplicidade seria simples, mas não conseguia ser simples.
Era repetitivo. É repetitivo. Repete. Continua não dizendo...
O brilho ofuscava sua mente. Talvez não exista brilho. Existe mentira, melhor, existe omissão. Omissão, a menor das mentiras, a pior das mentiras, uma mentira. Mente, mentia, mente. Escreve em demasia, pensa sem razão. Não desenvolve. Emaranhado de letras. Floresta de rabiscos. Caverna das sentenças. Original, blasfêmia, catedral das insanidades, vocábulo, declinações, profusão, pleonasmo. Sinônimo. Antônimo. Mudança estanque.
Parágrafo. Nietzsche, Kafka, Orwell, Adams, Veríssimo, Arbex, Karpov, nada. Nada. Orígenes, Christie, Harrington, Assis, Alencar. Nada. Levi-Strauss, Geertz, Kunsch, Adorno... Nada...
Pensa, logo inexiste. Postula. Não raciocina. Posterga. Arremesa, acerta, erra, erra, erra. Não faz. Não merece. Merece...
Confuso, prolixo, inexequível, lúgubre, Assintoso. Fascínora. Pasteurizável...
Fim!?
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