sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Distante

Som de modem distante! Porteiro eletrônico! Esse é o resultado.
Rezende era viúvo. Gostava muito de passear por Sorocaba, ainda que morasse em Aguaí. Seus hábitos de viagem eram tão extravagantes quanto suas vestes rotas. Porém, aos 47 anos, dava-se ao luxo de esquecer o mundo ao seu redor. Simplesmente fazia o que queria, na hora que queria, do jeito que queria. Depois de tantos golpes da vida, tantos golpes durante a vida, tinha o conhecimento e poder necessários para executar e não se importar.
Aquela tarde de primavera não era como as demais que tinha presenciado. A cidade era a mesma, a estação do ano também. Sabia que todos os momentos eram diferentes, porque a vida passa e nada pode se repetir. Sabia bem disso, mas não era o que o incomodava. Aqueles instantes eram únicos por outras razões. As peculiaridades eram internas.
Viu tudo e todos. Começou a se importar de novo. Não entendia bem, só lhe passava pela cabeça um turbilhão de informações recentes e antigas, tudo girava e colidia com seus olhos. Enfim, seu passado encarava o presente, e o futuro se delineava. Vira tudo e todos. Vira uma única peça. Vira.
Não importa a ordem, nada importa. É fácil e difícil de entender. Tudo muito obscuro. Talvez queira distância. Não é isso. Mas agora... As dúvidas continuam, as incertezas, a ignorância. Só uma certeza: não pode ser assim.

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